domingo, 17 de janeiro de 2010

O ignorante é crente...ou os crentes são ignorantes?

Isso é uma coisa que parece que mete um bocadinho fni (para quem não sabe, fni é o nome dado aquela impressão em que a meia está fazer uma certa impressão na zona do tornozelo, provavelmente devido ao método de calçar não ter sido o melhor). Eu já me disse um rapaz 100% científico, não acreditando em nada daquilo que se diz "transcendente" mas ultimamente até tenho tolerado certas e determinadas coisas. A razão deve-se, muito provavelmente, a influências e opiniões ouvidas à volta. Novo meio, novos colegas "mais parecido comigo" e cujos interesses acabam por ser "semelhantes". Não, comigo nunca coisas dessas se passaram (e sinceramente não estou tecnicamente interessado de momento) mas é algo que pode ser questionável, bastante.

Não pretendo colocar aqui em causa a fé de quem quer que seja, apenas exprimir uma opinião que se prende com o seguinte: a religião apenas é boa para educar. E não estou a falar dos colégios de freiras que por aí estão, mas pelo próprio contéudo místico que a religião acarreta. Na maioria delas, estamos perante um ente superior que, na base, se lhe apetecer, lixa-te! E esse medo acaba por inconscientemente ficar patente na educação.

Falando no meu caso que fui educado segundo uma doutrina cristã: fui exposto à existência de uma entidade (um Deus) que fez um dilúvio, um Deus que tinha enganado um tal senhor a querer matar o filho, um Deus que tinha mandado rãs e uns poucos de bichos para o Egipto...e eu nesta altura era um puto com os seus 6 anos ou assim, e ouvia aquilo com bastante atenção acreditando em cada palavra daquilo.
Depois, como é óbvio, as pessoas crescem e começam a tomar em conta o mundo que as rodeia: as injustiças que a igreja faz, os injustiças à nossa volta, começa a não acreditar naquelas coisas porque são tudo hipérboles (quem me diz que o senhor que andou nas águas do Mar Morto não escolheu um dia em que o mar estava baixo e aquilo era tudo sal?). E começa a tirar de lá apenas a mensagem, que até temos uns valores bonitos no meio disto tudo. A Bíblia acaba antes por ser uma história de moral e uma escola, e não um calhamaço que se vai lendo na missa.

Eu sou sincero e tenho de agradecer grande parte da educação que tive à igreja, isso é certo. Acredito que grande parte da pessoa que sou, grande parte dos valores que cultivo se devem ao mesmo. Mas por outro lado acho que a igreja em si não age bem. Se a igreja fosse o que se diz ser, vendia o vaticano, ia para África, montava sede um apartamento T0 na Buraca e ficavam numa zona muito bem localizada. Isto para não os mandar para a Zibreira, apenas para mais facilmente poderem apanhar os aviões para África e isso...
É que, digam o que disserem, a igreja, com ou sem sede oficial, haveria de continuar a "fazer-se". Há pessoas que a põem em prática. É que eu nem peço para mudarem de sítio e venderem o Vaticano (mas lá que era um acto bonito, era), apenas para terem um bocadinho menos de fausto. É exagerado, diria...

Mas agora pensemos de outro modo: se o papa fosse "móvel", se a sede fosse mudando de sítio, a casa que ele ocupava valorizava logo. Consequências: conseguia vender a casa mais cara do que comprou, ganhava dinheiro e podia ajudar os outros (os outros bolsos, como seria de esperar).

Eu até acredito que exista uma "entidade suprema", mas não aquela que me foi ensinada. E a razão pode parecer um bocado estranha mas é baseada num livro de José Rodrigues dos Santos:

"Sabe, na minha infância eu era um menino muito religioso. Mas, aos doze anos, comecei a ler livros científicos, daqueles popularuchos, não sei se conhece..."
"Sim..."
"...e cheguei à conclusão que a maior parte das histórias da Bíblia não passavam de narrativas míticas. Deixei de ser um crente quase de um dia para o outro. Pus-me a pensar bem no assunto e apercebi-me de que a ideia de um Deus pessoal é um bocado ingénua, infantil até."
"Porquê?"
"Porque se trata de um conceito antropomórfico, um fantasia criada pelo homem para tentar influenciar o seu destino e buscar consolo nas horas difíceis. Como nós não podemos interferir com a natureza, criámos esta ideia de que ela é gerida por um Deus benevolente e paternalista que nos ouve e que nos guia. É uma ideia muito reconfortante, não lhe parece? Criámos a ilusão de que, se rezarmos muito, conseguiremos que ele controle a natureza e satisfaça os nossos desejos, assim por artes mágicas. Quando as coisas correm mal, e como não compreendemos que um Deus tão benevolente o tenha permitido, dizemos que isso deve obedecer a um qualquer desígnio misterioso e ficamos assim mais confortados. Ora, isto não faz sentido, não lhe parece?"
"Não acredita que Deus se preocupe connosco?"
"Repare, senhor primeiro-ministro, nós somos uma entre milhões de espécies que ocupam o terceiro planeta de uma estrela periférica de uma galáxia mediana com milhares de milhões de estrelas, e essa galáxia é, ela própria, uma de entre milhares de milhões de galáxias que existem no universo. Como quer que eu acredite num Deus que se dá ao trabalho de, nesta imensidão de proporções inimagináveis, se preocupar com cada um de nós?"
"Bem, a Bíblia dia que Ele é bom e omnipotente. Se é omnipotente, pode fazer tudo, incluindo preocupar-se com o universo e com cada um de nós, não é?"
Einstein bateu com a palma da mão no joelho.
"Ele é bom e omnipotente, é? Ora aí está uma ideia absurda! Se ele é de facto bom e omnipotente, como pretende a Bíblia, porque razão permite a existência do mal? Por que razão deixou que ocorresse o Holocausto, por exemplo? Se for a ver bem, os dois conceitos são contraditórios, não são? Se Deus é bom, não pode ser omnipotente, uma vez que permite e existência do mal. Um conceito excluí o outro. Qual é que prefere?"
"Uh...talvez o conceito de que Deus é bom, acho."
"Mas esse conceito tem muitos outros problemas, já reparou? Se ler a Bíblia com atenção, irá reparar que ela não transmite a imagem de um Deus benévolo, mas antes de um Deus ciumento, um Deus que exige fidelidade cega, um Deus que causa temor, um Deus que pune a sacrifica, um Deus capaz de dizer a Abraão para matar o filho só para ter a certeza de que o patriarca lhe era fiel? Para quê, sendo Ele bom, esse teste tão cruel? Portanto, não pode ser bom."
Ben Gurjon soltou uma gargalhada.
"Já me apanhou, professor", exclamou. "Está bem, Deus não é necessariamente bom. Mas, sendo ele o criador do universo, é pelo menos omnipotente, não?"
"Será? Se assim é, porque razão pune ele as suas criaturas se tudo é Sua criação? Não estará a puni-las por coisas que é Ele, afinal de contas, o exclusivo responsável? Ao julgar as suas criaturas, não estará ele a julgar-se a si próprio? Na minha opinião, e para ser franco, só a Sua existência O poderá desculpar.” Fez uma pausa. “Aliás, se formos a ver bem, nem sequer a omnipotência é possível, trata-se de um conceito, também ele, cheio de irresolúveis contradições lógicas.”“Como assim?”“Há um paradoxo que explica a impossibilidade da omnipotência e que pode ser formulado da seguinte maneira: se Deus é omnipotente, pode criar uma pedra tão pesada que nem ele próprio consegue levantar.” Einstein arqueou as sobrancelhas. “Está a ver? É justamente aqui que radica a contradição. Se Deus não conseguir levantar a pedra, Ele não é omnipotente. Se conseguir, Ele também não é omnipotente porque não foi capaz de levantar uma pedra que não conseguisse levantar.” Sorriu. “Conclusão, não existe um Deus omnipotente, isso é uma fantasia do homem em busca de conforto e também de uma explicação para o que não entente.”“Então não acredita em Deus.”“Não acredito no Deus pessoal da Bíblia, não.”“Acha que não há nada para além da matéria, é?”“Não, claro que há. Tem de haver algo por detrás da energia e da matéria.”“Afinal, professor, acredita ou não acredita?”“Não acredito no Deus da Bíblia, já lhe disse.”“Então acredita em quê?”“Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na ordem harmoniosa daquilo que existe. Admiro a beleza e a lógica simples do universo, creio num Deus que se revela no universo, num Deus que…”(…)“…de Espinosa.”Fez-se um longo silêncio.Foi Bem Gurion o primeiro a rompê-lo.“Professor, acha que será possível provar a existência de Deus?”“Não, não acho, senhor primeiro-ministro. Não é possível provar a existência de Deus, da mesma maneira que não é possível provar a sua não-existência. Nós apenas temos a capacidade de sentir o misterioso, de experimentar a sensação de deslumbramento pelo maravilhoso esquema que se exprime no universo.”Fez-se uma nova pausa.“E por que não tenta o senhor provar a existência ou inexistência de Deus?”“Não me parece que isso seja possível, já lhe disse.”“Se fosse possível, qual seria o caminho?”Silêncio.Foi agora a vez de Einstein levar algum tempo a falar. O velho cientista girou a cabeça e contemplou toda a verdura que bordejava Mercer Street; contemplou-a com olhos de sábio, com olhos de garoto, com olhos de quem tem todo o tempo do mundo e não perdeu o dom de se maravilhar com a exuberância da natureza no seu encontro com a Primavera.Respirou fundo.“Raffiniert ist der Herrgott, aber boshaft ist er nicht”, disse por fim.Bem Gurion fez um ar intrigado.“Was wollen Sie damit sagen?”“Die Natur verbirgt ihr Geheimnis durch die Erhabenheit ihres Wesens, aber nicht durch List.”


in A Fórmula De Deus de José Rodrigues Dos Santos

Pode parecer estranho mas até foi isto que me fez pensar um bocado no assunto.

Ignorante, já pensaste no passo em frente que podíamos dar que muitas pessoas não vivessem "cegas" com a ideia de que há alguém superior, ele é que mandar então vou rezar para morrer mais tarde e poder aproveitar agora as coisas, mesmo que eu não esteja a fazer nada de útil? É que é preciso atitude, é preciso lutar, fazer crescer o mundo! Na base, precisamos de criar um novo mundo no mundo!

Já pensaste nisso ignorante?

1 comentários:

Anónimo disse...

O Ser-humano, é um enigma, pode desvendar coisas inimaginaveis, porem não compreende a simplicidade.
A verdade é que queremos entender Deus, a inumeras falhas nestes pensamentos.
1° Deus é bom, e isto não significa que alguém bom não tenha atitudes que os outros pensem que este é ruim, porem o fim teoricamente justificara as razões, o que não exclue ser tido como ruim aos olhos dos outros, porem em uma situação igual certamente a catastrofe mostraria a diferença.
2° Se não existisse o mal não existiria a bem, se há mal há bem, e isto pelo simples fato de que gostamos ou não gostamos e assim nós criativos que somos definimos o que é e o que não é, muito simples mais é assim, sem nenhuma grande explicação, que poderiamos passar horas vendo esta verdade em ação.
3° Falta contexto de ações para se julgar assuntos mal colocados. Quando Deus esta provando ou testando alguém? A unica pessoa que não conhece algo somos nós, com isso ele muito mais se explica e mostra-nos quem somos do que se aprova ou desaprova-se. Tem que se olhar o contexto, a história tem se escrito a cada dia, e no final poderemos entender inumeras coisas que hoje nem percebemos.
4° E mais importante, se não conseguimos nem entender um professor em uma sala de aula achando que as matérias lecionadas são dificieis de mais para entendermos ou que quem esta ali lecionando é alguém hiper-dotado, imagine Deus... JAMAIS PODERIAMOS ENTENDE-LO, É COMO COLOCAR O OCEANO DENTRO DE UM COPINHO DE 10ML de cafézinho...
Na vida optamos em que queremos crêr, nenhum ser-humano é desalienado de fé, porém cada um há coloca onde acha melhor, o ateu crê, que não crê em nada, porém tem fé, mesmo que no nada, mesmo que seja contra o que os outros chamem de Deus, todos creem em algo, e o tamanho do seu Deus é o tamanho da sua fé...rsrsrsrs
Proporcionalmente assim cada um acha o que melhor lhe cabe, porém uma das provas da divindade e paternidade de Deus é exatamente buscado nos nossos laços de relacionamentos... "uma criança adotada pode viver a vida inteira sendo amada por seu pai de criação, regaladamente vivendo, nutrida, vestida e nunca lhe faltar nada, inclusive amor, porem no dia em que ela souber que tem um Pai, ou que aquele não é seu pai, ela não descansará na busca do seu verdadeiro pai, e ainda por pior que seja o pai quando o descobrir, os laços serão fortissimos, so ponto até mesmo de romper com os antigos laços, porque?" Gememos em busca das nossas origens, por isso acreditamos até mesmo em absurdos, como um pai qualquer o aceitamos, porem, somos livres para escolher, o ruim é que quase tudo que li não representa nada do que parece estar combatendo, é muito maior, muito, muito, muito maior o SER CRISTÃO, é muito acima desses ritos e mazelas que aqui esta postado, é além, mais tão além que toda ciencia sobre o assunto nos levaria a uma pontinha olhando oceanos e mais oceanos incalculaveis...
há evangelho mais genuino
há verdades mais bem embasadas
há muito mais a ser discutido e conversado antes de ser ponstado algo tão raso e tão sem bases...
Eu prefiro Crêr, porque frente a tudo que vejo, não há nada melhor, nem proximo a grandeza de Deus, é a unica explicação com começo meio e fim tudo explicito e claro, porem simples, mais com grandezas, inalcansaveis, por isso ele se comunica com homens, até porque se ele viesse como algum grande cientista falando de formulas e termos não dicerniveis o que seria de nós mortais.

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