sábado, 30 de janeiro de 2010

Ignorante, conheces o amor?

Olha de que tema me vens tu hoje falar. Que reflexão mais picuinhas escolheste tu. Tens noção que estás a entrar por caminhos de enveredamento difícil? Mas descansa que com tranquilidade e como o Sporting está forte! deve dar para desenvolver o assunto...

Porquê este tema? Não obrigatoriamente, mas está relacionado com o ideal de felicidade de muita gente. Quem nunca pensou: O meu ideal é formar-me, ter um emprego, uma família e nesse mesmo ambiente viver feliz! Está automaticamente colocado aqui o conceito de amor, óbvio, porque uma família em que uma pessoa se sinta feliz tem obrigatoriamente que ser uma família com amor.

Mas antes de falar do tema em si há que deixar o seguinte ponto prévio: conceitos como amor, felicidade e tudo o mais são muito abstractos. Eu estou a dizer que o amor está em todos os ideais de felicidade mas estou a falar de um amor completamente subjectivo, que nada ou quase tudo terá a ver com a ideia que os outros têm. Com este conceitos e com muitos outros se poderiam destacar subjectividades deste género...

Mas para mim, o que é o amor?
Limito-me a dizer que não existe, é como a arte. Por vezes fazemos comentários acerca de, por exemplo, um casal de namorados e dizer É amor!. Outras vezes, olhamos para um quadro e dizemos É arte!. Pode parecer um bocado estupida esta comparação mas deve-se à natureza dos conceitos, permitem tal semelhança.
Ora, há uns tempos vi na televisão uma experiência que consistia vagamente no seguinte: davam uma tela e punham tintas à disposição de um macaco, de modo a que ele pintasse um quadro. Ele pintou um quadro bonito e levaram o quadro a um ateliêr de modo a que o pudessem vender. O diálogo não foi propriamente este mas a ideia está contida nele:
Quanto vale este quadro?
Bem, tem uns traços de Picasso e de Miró [eu não percebo nada de arte, foram os primeiros nomes que me vieram à cabeça], estava capaz de dar uns mil euros pela tela!
E se eu lhe disser que foi feito por um macaco?
Então nesse caso não dou mais que dez euros...
E afinal os macacos também fazem arte ou é uma daquelas coisas que só os homens sabem fazer? Pois, diziam que era só os homens, mas os macacos também a fazem. Assim é mais fácil dizer que a arte não existe, que a arte é apenas uma coisa que consiste nuns quadros com umas tintas, umas pedras com umas formas, etc. e que, segundo um certo conceito de beleza e estética que temos, é porreiro pah!

Com o amor é analogamente o mesmo: quantas vezes não aconteceu uma pessoa ter dois casos com indivíduos diferentes convencida que isoladamente cada um deles era amor?

Poderia cair em contradição, mas encaro o amor apenas como uma complexação da amizade. Se eu perguntar o que é a amizade se calhar também não me sabem dizer. Isto porque ela não existe. Eu dizer que há amizade entre duas pessoas corresponde muitas vezes a dizer que são pessoas que partilharam momentos, partilharam episódios da vida e cujas maneiras de ser não têm qualquer razão de choque.
Tecnicamente falando, vejamos: as moléculas são complexações dos átomos, mas toda a gente sabe que elas existem (é tipo o amor). Se perguntar o que faz as moléculas, todos sabem que são os átomos (tipo a amizade). Mas a partir daí as coisas começam a entrar num campo mais obscuro. Ok, podemos falar de protões, intrões, bosões, etc. mas nunca chegamos a nada de concreto. Apenas conseguimos saber que é tudo complexações de coisas mais pequenas.

Faço agora referência, e agradeço a quem ma comunicou, à teoria do solipsismo. Basicamente, esta teoria diz que a única coisa que podemos garantir é a nossa própria existência, tudo o resto podem ser estímulos que estamos a receber. Esta teoria consegue ser simultaneamente desconfortante e confortante. Isto porque, viver num mundo (ou pensar que vivemos nele) em que nada existe faz-nos pensar que tudo o que fazemos é inútil. Por outro lado, se tudo são estímulos, não temos nada a perder seja qual for a decisão tomada.
Ao falar disto, pretendo interligar com o facto de amor e a amizade e tudo o mais serem apenas complexações da nossa existência. Poderíamos, creio, a partir daí criar o resto (ou pelo menos enquanto interpretações erradas de estímulos recebidos pela nossa existência). Se tudo são complexações do mais básico, porque não compreender primeiro a complexidade do básico de modo a tentar compreender o resto? Se nós tivemos descoberto primeiramente a partícula mais pequena de todas, poderíamos mais facilmente chegar às maiores. Por outro lado, se partíssemos da maior de todas, conseguíamos compreender a complexação mas nunca a própria essência dos constituintes (porque não foi deles que partimos).

Ideia geral disto: eu consigo compreender um nível acima do meu se me encontrar num nível abaixo.
Ou seja, eu consigo compreender as moléculas se compreender os átomos. Consigo compreender os átomos se conseguir compreender as partículas sub-atómicas.
Eu consigo compreender o amor se conseguir compreender a amizade. Eu consigo compreender a amizade se (...) conseguir compreender a existência.

Daí ser mais fácil admitir a não existência dessas complexações: devido à análise "fragmentada" que poderia ser feita mas também devido a alguma subjectividade. Átomos nós conseguimos compreender macroscopicamente, porque não há subjectividade (a quântica já é outra história), mas coisas abstractas macroscópicas já é mais complicado porque estão cheias de subjectividade.

Imaginemos que estamos a iniciar uma humanidade. Vamos agora, sei lá, contruir uma civilização. Se desde início nós lhe dissessemos o cerne de tudo o que de mais básico há, as complexações teriam todas interpretações muito semelhante. Seria algo como Uma coisa complexa=uma coisa básica+uma coisa básica.

Mensagem final? Não sei, sou ignorante...tenho complexos básicos...e básicos complexos...

0 comentários:

Enviar um comentário